Sociedade espera solução para execução de jornalista

Alessandro Augusto Neves, o Pitote

Novas informações revelam que homem apontado como assassino possui fortes ligações com policiais e é tema de sindicância na PC


IPATINGA – Após 113 dias da morte do jornalista Rodrigo Neto, familiares, amigos e a imprensa regional aguardam a conclusão do inquérito da execução covarde sofrida pelo repórter em 8 de março. Na semana passada, a Polícia Civil, que investiga o caso, anunciou a prisão de dois suspeitos do crime e causou alvoroço ao afirmar que a elucidação estaria bem perto, assim como a apresentação de todos os envolvidos.
No entanto, a Polícia novamente silenciou sobre o caso e, ontem (27), o chefe da Delegacia de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), Wagner Pinto, afirmou que não havia nenhuma nova informação sobre a execução de Rodrigo Neto. A notícia contraria o que havia sido informado pelo secretário de Estado de Defesa Social, Rômulo Ferraz, e também pelo chefe da Polícia Civil mineira, Cylton Brandão, de que o caso já estaria em vias de ser concluído e a motivação do assassinato, revelada.
Na terça-feira da semana passada (18), a assessoria da Polícia Civil emitiu nota falando sobre a prisão de dois envolvidos na morte do radialista. Um deles é o investigador de polícia Lúcio Lírio Leal, de 22 anos, que atuava como policial em Ipatinga desde 2010 e nunca tinha passado por nenhum procedimento administrativo interno da instituição.
O outro preso é Alessandro Augusto Neves, de 31 anos. Segundo a própria assessoria da PC, o homem não possui profissão definida, mas tinha bom relacionamento com agentes e trânsito livre em delegacias, especialmente na cidade de Coronel Fabriciano.
Pitote, como o homem é conhecido, era visto com freqüência circulando pela Delegacia Regional de Ipatinga, no Centro, e na Delegacia Especializada de Coronel Fabriciano. Conforme informações dos próprios policiais, era próximo do detetive Elton Pereira da Costa, preso pelo Departamento de Investigação de Homicídios de Belo Horizonte, em maio por suspeita de envolvimento em homicídios investigados por uma força tarefa da capital mineira.
Alessandro aproveitava do contato com os agentes e também se passava por policial civil, participando inclusive de trabalhos externos  de investigação. No momento de sua prisão pelo assassinato de Rodrigo Neto, Pitote portava uma carteira falsa da instituição, o que fez com que ele fosse enquadrado também pelo crime de falsificação de documento.

SINDICÂNCIA
Uma sindicância foi aberta no ano passado pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil para apurar a conivência de agentes com a permanência de Pitote entre os policiais. A situação é agravada devido à participação de Alessandro em algumas diligências realizadas pela PC com a presença de delegados. Entre os investigados, detetives da instituição e também o então delegado regional, João Xingó de Oliveira, que se aposentou em abril do ano passado após uma série de acusações de corrupção envolvendo seu nome.
A reportagem do COMITÊ RODRIGO NETO tentou contato com o ex-delegado, mas ele preferiu não se manifestar. Conversou também com os delegados que atuavam em Coronel Fabriciano, cidade em que Pitote teria “trabalhado” mais, no período em que o ele se passava por agente.
Daniel Araújo, transferido em junho do ano passado, afirmou que nunca conheceu Pitote no período em que esteve à frente da Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio da cidade. Já Amaury Tomaz, delegado de trânsito de Coronel Fabriciano, confirmou que conhecia Pitote de vista, mas foi enfático ao dizer que o suposto assassino de Rodrigo Neto nunca trabalhou em sua delegacia. “Aqui eu garanto que ele nunca teve trânsito, nunca trabalhou comigo”, disse.
Outro delegado que trabalhava em Fabriciano no período em que o homem se passou por agente, Gustavo Cecílio, não foi encontrado para comentar o assunto.
O subcorregedor da Polícia Civil e chefe do 12º Departamento de Polícia de Ipatinga, Elder Dângelo, entretanto, disse acreditar que todos os agentes estavam cientes da situação de Pitote, bem como as chefias das delegacias. “Todos sabia quem era Pitote. Quem disser que não, está mentindo”, afirmou.
Alguns policiais ouvidos pelo COMITÊ RODRIGO NETO chegaram a levantar a hipótese de que Pitote fosse um funcionário emprestado de alguma instituição para a Polícia Civil, o chamado Ad hoc. Porém, esta possibilidade foi totalmente descartada por Elder Dângelo, que caracterizou Alessandro como um “nada, que vivia de favores dos policiais”. O subcorregedor informou que a sindicância continua tramitando na Corregedoria geral da PC, mas que o nome de João Xingó foi excluído do processo após a sua aposentadoria. Caso as investigações apontem falhas dos agentes, poderão haver punições como a repressão, suspensão ou multa – a conivência não é passível de expulsão.
Alessandro Augusto Neves permanece preso na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, para onde foi levado logo após ter sido preso em Ipatinga. Na ocasião, ele foi encontrado com uma arma de fogo com a numeração raspada, também sendo preso por porte ilegal de arma. Já Lúcio Lírio Leal, assim como os outros policiais civis presos, encontra-se na casa de custódia da própria instituição, localizada em Belo Horizonte.

MEDALHA
Na última terça-feira (25), os parlamentares de Coronel Fabriciano aprovaram por unanimidade, durante reunião ordinária no plenário, o projeto de resolução 531/2013, que cria a Medalha Rodrigo Neto. A honraria deverá ser concedida à instituições e personalidades que se destaquem na promoção e defesa dos Direitos Humanos. Uma audiência pública promovida pelo Comitê Rodrigo Neto para tratar o caso também deverá acontecer em breve no Legislativo fabricianense.
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Comoção marca ato de protesto pela morte de Rodrigo Neto

Ato público foi organizado pelo Comitê criado para cobrar elucidação do crime; morte de Walgney Carvalho também foi lembrada

Foto: Elianderson Lima



IPATINGA – Centenas de pessoas participaram na noite desta terça-feira (11) de um ato público para lembrar os 100 dias da morte do jornalista e radialista Rodrigo Neto, executado a tiros no dia 8 de março deste ano.  O movimento foi organizado pelo Comitê Rodrigo Neto, grupo de jornalistas criado para acompanhar e cobrar agilidade nas investigações do crime. É a segunda vez que o Comitê promove um evento desta natureza – o grupo havia realizado uma manifestação quando o assassinato completou um mês. Na ocasião, parentes e amigos de Rodrigo, além de dezenas de jornalistas, pediram por justiça nas ruas do Centro de Ipatinga.

Em clima de muita comoção, profissionais da imprensa e familiares de Rodrigo Neto, se reuniram no local onde aconteceu o crime: a avenida Selim José de Sales, em frente ao Churrasquinho do Baiano, de onde Rodrigo saía antes de ser morto. Os jornalistas do Comitê decidiram pelo protesto e também pela retomada das ações de cobrança por resposta para este e também outros crimes ocorridos no Vale do Aço.

O ato foi marcado por várias atividades, dentre elas a colocação de uma enorme cruz no local do crime. "A cruz vai ficar fincada aqui enquanto o crime não for elucidado", garantiu um jornalista organizador do protesto, que prefere não ser identificado. Para ele "a cruz é um símbolo forte para deixar bem claro que a população do Vale Aço não vai se calar enquanto o crime não apurado". Cruzes menores também foram fincadas no canteiro central da avenida Selim José de Sales e um grande cartaz com a foto do jornalista foi fixado no local. Também houve a distribuição de adesivos com a frase "Rodrigo Neto sua voz não vai se calar".



CARTA ABERTA

Os motoristas que passavam pelo trecho durante o protesto receberam uma carta aberta com a seguinte pergunta "Quem matou Rodrigo Neto?".  O panfleto faz uma série de questionamentos à Policia Civil, responsável pela apuração do crime. "Ouvimos eloquentes declarações de policiais e políticos sobre quão absurdo foi o assassinato de Rodrigo Neto e como sua morte representava um atentado à liberdade de expressão e ao livre exercício da profissão, inclusive ameaçando a própria democracia e o Estado de Direito", diz o informativo.

O ato também lembrou e questionou o assassinato do repórter fotográfico Walgney Carvalho, ocorrido pouco mais de um mês depois da execução de Rodrigo Neto. A Polícia Civil iniciou uma série de prisões de policiais civis e militares envolvidos em diversos crimes e chacinas no Vale do Aço. Questionam os jornalistas: "Por que a Polícia esperou tantos anos para prender os seus pares, apesar da existência de indícios, e em alguns casos até provas, de envolvimento direto de agentes de segurança pública em crimes tão bárbaros que aconteceram no Vale do Aço há vários anos? Por que tantos delegados regionais que passaram por aqui foram omissos, se diante de seus olhos policiais civis cometiam crimes na total certeza da impunidade?”

É nesse sentido que o Comitê Rodrigo Neto está agora direcionando sua mobilização. "Não descansaremos enquanto os assassinos de Rodrigo Neto e de Walgney Carvalho não forem descobertos e levados à prisão, e todos os policiais bandidos do Vale do Aço devidamente identificados, julgados, condenados e presos”, afirma a carta aberta do Comitê Rodrigo Neto.
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Quem matou Rodrigo Neto?

Morte de jornalista completa três meses sem resposta; autoridades policiais se recusam a falar sobre o andamento das investigações




IPATINGA – Três meses, mais três dias e uma pergunta: quem matou Rodrigo Neto? Depois de quase cem dias do assassinato do radialista da Rádio Vanguarda e repórter do Jornal VALE DO AÇO, o caso permanece sem respostas. Embora as autoridades policiais digam se empenhar na apuração do crime, com uma força-tarefa do Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa da Polícia Civil (DIHPP) de Belo Horizonte, nada de concreto foi noticiado ainda quanto à elucidação do caso.



O assassinato de Rodrigo Neto provocou medo, insegurança, revolta e sensação de impunidade. A grande preocupação da imprensa, amigos e familiares é se esse seria mais um caso fadado a cair no esquecimento assim como muitos outros que o radialista cobrava para que fossem solucionados. Diante de acirradas cobranças, o DIHPP fez um apelo para que pudesse trabalhar em uma “zona de conforto”, pois só assim conseguiria chegar aos autores da execução do jornalista.



A trégua solicitada pela polícia foi concedida pelos órgãos de imprensa, mas tudo que se ouve até agora é que as investigações ainda estão em andamento e nada mais. Depois de quase um mês sem nenhuma movimentação, o Comitê Rodrigo Neto realiza nesta terça-feira (11), às 19h, um novo ato que irá lembrar os quase 100 dias da morte do jornalista. A manifestação acontece no local do crime, na avenida Selim José de Sales, na altura do número 1.000, em frente ao Churrasquinho do Baiano, de onde Rodrigo saía no momento em que foi morto pelo garupa de uma motocicleta.



O CRIME


Rodrigo Neto foi barbaramente assassinado no final da noite do dia 8 de março. Ele foi alvejado por três tiros quando entrava em seu veículo. Ao abrir a porta do carro, dois homens em uma motocicleta, usando capacetes, se aproximaram e dispararam friamente contra o repórter. Rodrigo foi atingido por um tiro na cabeça e outro no peito. Chegou a ser socorrido com vida e levado para o Hospital Municipal de Ipatinga, mas não resistiu aos ferimentos.  Rodrigo Neto era casado e deixou um filho de seis anos. Havia acabado de se mudar no dia anterior para uma nova residência e parecia feliz com o novo desafio profissional, agora como contratado não apenas da Rádio Vanguarda, mas também do jornal VALE DO AÇO, onde iniciara apenas uma semana antes. Ainda na redação, por volta das 21h, conversava com o editor sobre seus planos de vida. Seu objetivo, nos últimos anos, era tornar-se um delegado de polícia, e para isso já havia participado de dois concursos.



Desde a morte do jornalista, muitas manifestações, inclusive por organismos internacionais, foram feitas cobrando respostas mais rápidas para o caso. À época dos fatos, os delegados da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, Gilberto Simão e Ricardo Cesari, anunciaram em coletiva à imprensa apuração séria do “Caso Rodrigo Neto”. No entanto, um dia depois a equipe da Delegacia de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), coordenada pelo delegado Emerson Morais, de Belo Horizonte, assumiu a investigação e formou-se então uma força-tarefa não só para apurar o crime contra o repórter, mas também outros casos impunes que eram cobrados pelo jornalista.



O Comitê Rodrigo Neto cobrou insistentemente respostas para os assassinatos, mas por enquanto nenhuma conclusão foi divulgada Já no dia 12 de março, jornalistas do Vale do Aço criaram o Comitê Rodrigo Neto, para evitar que o trágico episódio caísse no esquecimento. De lá para cá, várias reportagens produzidas pelo comitê trouxeram de volta aqueles crimes sobre os quais o jornalista sempre cobrava incisivamente por punição.



Apesar da revolta, dor e medo, amigos, familiares e colegas de profissão não deixaram de participar da missa de 7º Dia de Rodrigo Neto, celebrada pelo Bispo emérito da diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, Dom Lélis Lara. Em sua homilia, o religioso conclamou os presentes a fazerem algo para que o crime não ficasse impune. “Rodrigo Neto denunciava as coisas erradas, as maldades e os crimes. Então tinha gente interessada em eliminar este homem, pois ele estava atrapalhando a maldade”, destacou o sacerdote, que concluiu que “isto foi feito por pessoas que não têm temor a Deus”.



SEM POLÍCIA FEDERAL


Por telefone, na tarde desta segunda-feira (10), a assessoria de Comunicação da Polícia Federal em Belo Horizonte informou que até o momento o organismo não está na investigação do caso e sequer recebeu qualquer comunicado oficial sobre o ocorrido. Segundo o órgão, é necessário que as instituições responsáveis do estado encaminhem solicitação para que a PF aja, sendo que, por conta própria não há como isso ocorrer.







Fotógrafo freelancer teria sido morto por queima de arquivo




FABRICIANO – Não bastasse o choque da morte de “Rodrigo Neto”, os jornalistas tiveram que conviver com outro episódio trágico, poucos dias depois. Na esteira do primeiro crime, mais um profissional da área foi assassinado. No dia 14 de abril, foi executado a tiros o fotógrafo freelancer e colaborador do Jornal VALE DO AÇO, Walgney Assis Carvalho, 43 anos, mais conhecido como “Carvalho Loko”, supostamente por queima de arquivo. Carvalho foi morto em um pesque-pague de Fabriciano, local aonde ia com frequência. O autor do crime baleou-o pelas costas.

Há quase dois meses, o crime contra Carvalho também permanece sem respostas. Ele também atuava como fotógrafo voluntário da perícia da Polícia Civil há 16 anos. Especula-se que ele soubesse quem teria matado Rodrigo Neto, sendo morto por causa disso.  Muito falante, a alguns ele teria dito: “A polícia nunca vai descobrir quem foi” – como se estivesse certo de quem teria realizado o assassinato do repórter, embora não pudesse – ou não quisesse – revelar.
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